PAUTA DE HTPC
PC-CRISTIANE DE FREITAS
1-OBJETIVOS
-Formação;
- Reflexão das problematizações.
-AQUISIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEITORAS
2-LEITURA EM VOZ ALTA-Quem Tem Culpa no Cartório?
Mário Prata
Vender um carro não é tão difícil assim. O problema é que agora inventaram que a gente tem de ir ao cartório. Assinar lá aquele papelzinho e o sujeito reconhecer a firma da gente. Não adianta mandar ninguém. Tem de ser a gente.
Pois é. Vendi o meu carro e lá fui eu, na quarta passada, reconhecer a minha firma, palavra pomposa para a nossa humilde assinatura. Assinei na cara do sujeito e entreguei. Me pediu a carteira de identidade. Meu Deus, esqueci. Tento quebrar o galho.
— Sem a carteira de identidade não tem possibilidade.
— Meu amigo, está chovendo, foi uma luta estacionar o carro e...
— Impossível. O senhor não viu escrito ali?
Foi quando eu me lembrei do Estadão que estava debaixo do braço. Minha coluna, minha foto. Mostro para ele.
— Está vendo? Sou eu.
Olhou para a foto, olhou para mim.
— Reconheceu?
— É, reconheci. Mas, para reconhecer a firma, só com a identidade. É lei, olha a fila, meu senhor.
— Meu amigo, a carteira de identidade é para provar que eu sou eu, não é? Pois eu acabo de provar que eu sou eu. Ou não?
— Eu sei que o senhor é o senhor, mas não adianta. Olha a fila.
— Posso falar com o seu chefe?
— Não vai adiantar. É aquele. O de peruca. Seu Wilson.
Caminho na direção do seu Wilson. De longe, já começo a analisar a peruca dele. Peruca de homem, não sei por que, sempre me fascina. Me dá uma vontade quase incontrolável de arrancar, de fazer com que todo mundo em volta ria.
Vou olhando em volta. O cartório evoluiu muito. Agora está cheio de computadores. Tá "muderno". Numa mesa a Dulce, a Dudu e o Ferreira (gripadíssimo) dominam o computador para, logo em seguida, bater o carimbo. O carimbo! Céus, quando é que o burocrata vai livrar-se do carimbo? Fico olhando o trabalho da Dulce enquanto o da peruca atende uma senhora de laquê, muito nervosa. Conto: a Dulce bateu 93 vezes o carimbo em um minuto.
Isso é que é funcionária! Mais ou menos uma e meia carimbada por segundo. Está noiva, a Dulce.
Seu Wilson era inteirinho cinza. Ia do cinza claro do terno até o cinza escuro da olheira. Seu Wilson estava conversando com a de laquê, me olhando de lado. Chega a minha vez. Ele:
— Conheço o senhor de algum lugar. O senhor já não foi no programa do Jô?
— Meu nome é Mário Prata e...
— Claro, do Estadão. Reconheci o senhor assim que vi o senhor entrando. Qual é o problema, Marinho?
Odeio que me chamem de Marinho. Mas como havia sido reconhecido, tudo bem.
— É o seguinte, seu Wilson. Vim reconhecer a assinatura da venda do carro e não trouxe a carteira de identidade e...
— lh...
— Mas como o senhor me reconheceu, pode reconhecer também a minha assinatura.
— É, mas só que, pra reconhecer a assinatura, eu preciso da sua carteira de identidade. É uma questão legal.
— Legal, né?
Sentei.
— Seu Wilson, acompanhe o meu raciocínio.
— Pois não.
— O senhor precisa da minha carteira de identidade para ter certeza de que eu sou eu, não é isso?
— Exatamente, Marinho.
— Mário, por favor. Mário Alberto Campos de Morais Prata. Então, continuando, se o senhor sabe que eu sou eu, acho que a gente podia deixar a carteira de identidade pra lá.
— Veja, Mário Alberto (piorou!), quando o decreto saiu no Diário Oficial...
— Tudo bem, tudo bem. Mas me diga, seu Wilson: quem sou eu (aliás uma pergunta que me tenho feito muito: quem sou eu)?
— O senhor é o Mário Prata.
— O senhor reconhece isso?
— O senhor está querendo me pegar, não é? Olha, Campos, agora não posso mais. O meu funcionário, entende? Eu não posso passar por cima dele, tirar a autoridade dele. Se o senhor tivesse me procurado antes, aí sim, talvez...
Fiquei me segurando para não arrancar a peruca dele e colocar fogo. Estava com o isqueiro aceso. Acendi o cigarro, pensei no meu avô Mario que tinha cartório em Uberaba. Pensei em Jesus pensando nos pobres de espírito, pensei no Brasil, pensei na mãe do seu Wilson, pensei que eu não era mais eu.
Liguei para a Isabela, que ia comprar o meu carro.
— Isabela, desisti. Descobri que eu não existo, Isabela.
E fui para o divã do dr. Leonardo Ramos, que tem de carimbar a receita para que eu possa comprar Lexotan.
3-TEXTO- COMPETÊNCIA LEITORA
Heloisa Amaral
As práticas de leituras escolares são cruciais para o desenvolvimento da competência leitora dos alunos. Como essa competência é fundamental para o exercício da cidadania, esse assunto têm sido tema de inúmeras pesquisas em todos os países. As diferentes abordagens dessas pesquisas são decorrentes das diferentes formas de compreender a língua, de diferentes modos de compreender a relação ensino/aprendizagem e das muitas interpretações das razões do fracasso de tantos alunos diante da leitura.
Esta última razão tem sido o motivo de muitas pesquisas sobre leitura em países desenvolvidos, por exemplo (1) . Em alguns desses países observa-se que pessoas que têm muitos anos de escolarização não se tornam leitoras de gêneros textuais provenientes de esferas não escolares de produção de linguagem. Dizendo de outra maneira, esses países têm constatado que trabalhar exclusivamente com leitura de gêneros escolares (como os textos especialmente produzidos ou adaptados para os livros didáticos), não é suficiente para desenvolver competência leitora ampla que permita aos indivíduos lerem com facilidade textos jornalísticos ou outros que têm ampla circulação social. Ao mesmo tempo, muitas dessas pesquisas concluíram que também é de fundamental importância o desenvolvimento de atividades escolares voltadas para a competência leitora.
Em relação às pesquisas que partem de diferentes concepções de língua, podemos encontrar posturas bastante radicais. Aqueles que pensam a língua como código, exclusivamente, podem conduzir suas pesquisas para mostrar resultados ligados apenas com a falta de adequação dos trabalhos escolares como momentos de aquisição da base alfabética. Outros, que pensam a língua como texto ou discurso, podem assumir posições radicais em relação à práticas de aquisição da base alfabética, deixando-as em último plano. Todos sabemos que posições radicais podem ser muito envolventes, porque parecem mostrar que há um único caminho certo para chegar às finalidades que se almeja atingir. Também sabemos que a história da educação mostra que a adoção de práticas inspiradas em posições radicais sobre ensino de leitura e escrita têm conduzido a equívocos pedagógicos com resultados catastróficos, especialmente quando se trata de políticas públicas que atingem milhões de alunos.
Atualmente, a tendência das pesquisas mais avançadas é considerar que as práticas de ensino de leitura e escrita devem contemplar as diferentes características da língua. Essa visão permite uma radiografia mais completa das dificuldades apresentadas pelos alunos que são submetidos a práticas escolares de ensino de leitura mais unilaterais. Um exemplo de abordagem da língua como objeto de ensino complexo, multifacetado, está nas pesquisas de Rojo (2) e Kleiman (3) . Para ambas, a competência leitora tem maiores chances de ser desenvolvida quando se consideram os múltiplos aspectos que a língua contém enquanto objeto de ensino. De um modo geral, de acordo com pesquisas dessa mesma vertente teórica, é possível considerar práticas que desenvolvem competência leitora ampla aquelas que consideram os aspectos de código, de sistema e de discurso que a língua contém. Tais abordagens encontram respaldo nas políticas atuais do governo federal (4) e estaduais. Resumidamente, vejamos algumas das competências menores incluídas na competência leitora mais ampla.
1) São, entre outras, competências adquiridas a partir da apropriação, pelos alunos, dos aspectos de código da língua:
a. Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (números, desenhos, notações musicais, etc.).
Conhecer o alfabeto.
Dominar as relações entre grafemas e fonemas;
Saber decodificar palavras e textos escritos.
2) São, entre outras, competências que permitem a compreensão de textos, de acordo com os PCNs:
a. Ativação de conhecimentos de mundo (para compreender o que lê, o leitor precisa buscar referências em seu conhecimento de mundo: quanto mais amplo ele for, mais o leitor compreenderá o que lê).
Antecipação de conteúdos ou propriedades dos textos (o leitor, neste caso, busca referências em conhecimentos anteriormente reunidos; é o caso de crianças muito pequenas que lêem sem decifrar rótulos de produtos, p.ex.)
Localização de informações (essa capacidade foi uma das que as crianças avaliadas pelos testes padronizados demonstraram possuir).
Checagem de hipóteses (o leitor, enquanto lê, levanta e checa hipóteses; por exemplo, ao ler uma manchete de jornal rapidamente, pode entender que está escrito “os presos dos peixes subiram”, o que não faz sentido para ele. Retomando a leitura, verifica que sua hipótese estava errada e que a manchete diz “os preços dos peixes subiram”, o que faz sentido para quem lê).
3) Há competências que estão ligadas aos aspectos discursivos da língua e são competências que definem o perfil do leitor crítico. Esses aspectos estão diretamente relacionados com a situação de comunicação onde o texto foi produzido e respondem a questões como quem é o autor; que papel social ele exercia no momento que escreveu; que pontos de vista assumiu ao escrever; que veículo ou suporte contém o texto; como e onde esse veículo circulará; que finalidade tem o texto, etc.
a. A leitura crítica supõe um diálogo do leitor com aquilo que lê, valorando o que lê de acordo com seus critérios próprios de valor. Um leitor crítico tem pontos de vista pessoais e pode concordar com o autor que lê ou pode discordar dele, desvalorizando suas propostas.
A situação em que o leitor se encontra influencia esse diálogo com o autor: ler para se divertir, ler para obter uma informação, ler para estudar, ler para atualizar-se.
O leitor crítico é capaz de estabelecer relações com outros textos, anteriormente lidos, seja aqueles a que o texto procura responder, seja outros escritos posteriormente e que procuram dar respostas ao texto lido.
4- ATIVIDADES
-O QUÊ SIGNIFICA LER PRA VOCÊ?
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5-O QUÊ SIGNIFICA LER ,NA SUA OPINIÃO ,PARA SEUS ALUNOS?
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